segunda-feira, 14 de abril de 2014

Pequeno sumário do mais novo livro: Mecanismos da Comunicação Mental e Corporal na Capoeira / 2014 Mestre Chitãozinho



Pequeno sumário do mais novo livro: Mecanismos da Comunicação Mental e Corporal na Capoeira / 2014 Mestre Chitãozinho

          A Primeira explicação dirá resepeito ao fenômeno das comunicações mentais entre os capoeiristas e sua relação com as telecomunicações, aplicando assim, o conteúdo desta como hipótese para podermos extrair exemplos para o fenômeno da comunicão mental. Veremos dentro da primeira explicação que assim como as ideias que são transmitidas através do fenȏmeno das telecomunicações alcançam de certa forma seus objetivos, o pensamento e a vontade como potenciais por excelência da alma humana, podem ao seu turno alcançar muitas coisas. Aquele que formula uma ideia a ser comunicada, a codifica de um determinado modo, e quem a irá recepcionar, deverá ao seu turno decodificar tal ideia ou informação, interpretando-a e aximilando-a para o seu entendimento. Mas para que a comunicação ocorra é necessário haver o intercâmbio, seja de suposições mentais a certa de tal coisa, ou a troca de olhares, gestos e atitudes. 
          Na segunda explicação tentaremos perceber como o fenômenos da comunicação mental poderia ocorrer, tendo como ideia de base, o poder de ação do pensamento do capoeirista, o qual é transportado por meio de certas energias, graças à vontade que aparece para este mister tal como um motor direcionador, ampliador ou diminuidor da frequência dos potenciais dos pensamentos. As leis de sintonia mental e as questões sobre afinidade pessoal são de fundamental importancia para estas questões, além de supormos aqui, como as condições das particularidades mentais da energia de um capoeirista podem encontrar combinação com a de outro, tendo em vista a similaridade de conduta intima de quem cria tais energias mentais e de quem a recepcionará. Esta segundo explicação sera dividida em duas partes.  
          Finalmente, a terceira explicação dedicaremos esforços quanto à comunucação corporal, como ela acontece, e se observará aí como a ação mental e cerebrau, o poder da vontade, as energias que transportam nossos pensamentos, intenções e desejos podem mover o corpo à determinados estados emocionais, e estes ao seu turno, à produção de gestos e atitudes. Veremos que tais gestos ou atitudes corporais na roda e no jogo da capoeira, representam ideias determinadas, carregam certos objetivos, os quais podem especificar a comunicação mento-corporal por intermédio das representações e expressões do corpo do capoeirista, dando de um certo modo legitimidade e sentido lógico ao que o mesmo realiza e como se comporta no ato do intercâmbio subjetivo e objetivo na capoeira.       

sábado, 29 de março de 2014

Do livro Por Uma Ética na Capoeira (2013) Mestre Chitãozinho




10.1 Virtudes e idealísmos ético-morais para o pensamento capoeiristico: por uma ideia de boa conduta no cotidiano capoeiristico.

Isto que dissemos acima, não foje dos conceitos e teorias recentes sobre a virtude, tal como vemos na publicação, Uma Teoria da Virtude de Robert Merrihew Adams, renomado professor de Filosofia da Universidade de Oxford da Inglaterra. Adams acredita “ que o valor de um ato pode certamente divergir do caracter que produz este”. Ele entende que na maioria dos casos, um caracter que deseja representar a virtude ou uma pessoa que pretenda tal posição, pode acontecer que tal pessoa não seja realmente virtuosa. Pois nem sempre a postura assumida condiz com as reais intenções de quem a manifestou. Também, uma verdadeira virtude ou capoeirista virtuoso pode ser considerado algo tão raro, que se deve admirar quando nos deparamos com uma tal virtude. Pois o virtuoso não deseja ou quem sabe, nem se importa em querer mostrar-se, ou se aparece, suas “pegadas” não diz de onde vem, e se alguém sabe, este adivinhou, tal como o João de Barro (um passaro) que advinha a chegada da chuva e constroi sua casa com a boca declinada para se proteger da chuva. A conexão do João de Barro com o livro da Natureza, que ele sabe ler intuitivamente, deveria ser pensado em relação ao capoeirista e a virtude moral sublime, isto é, o capoerista deveria intuir do bem, se esforçar para manifestá-lo, e querer como único resultado, a moeda do prazer de se felicitar pelo bem que se faz aos esquecidos, que nos auxiliam a nos esquecermos da necessidade de reclamar por certos benefícios ou ações que praticamos.
A conexão do João de Barro com o livro da Natureza, que ele sabe ler intuitivamente, deveria ser pensado em relação ao capoeirista e a virtude moral sublime, isto é, o capoerista deveria intuir do bem, se esforçar para manifestá-lo, e querer como único resultado, a moeda do prazer de se felicitar pelo bem que se faz aos esquecidos, que nos auxiliam a nos esquecermos que devemos lembrar ou reclamar por certos benefícios pelas nossas ações.
Este tipo de virtude, tem o cuidado para não ser percebida no momento que os atos ou ações que a caracteriza são produzidos. Caso contrário, qual a natureza do virtuoso que tagarelasse sobre sua virtude? Quantas vezes se ver nos diálogos de Sócrates anotados por Platão, que ele saia para as ruas de atenas para se vangloriar que havia “vencido” esse ou aquele adversário numa conversassão, seja sobre o que tenha sido? De igual modo, vemos nas anotações da vida do Cristo pelos seus seguidores, que ele não se preocupava com a aprovação alheia, fosse do povo, fosse dos escribas e farizeus. Madre Tereza de Calcutá, Gand, Chico Xavier e tantos outros que poderiamos de algum modo considerá-los seres virtuosos, não vemos em suas vidas, que eles solicitaram o jornal para divulgar uma bondade que haviam praticado, ou desejaram colocar seus nomes em propagandas para dizer que foram eles quem fez isso ou aquilo, e mesmo não se chegou a saber que fizeram mensão sobre qualquer feito deles.
A catastrofi do orgulhoso que almeja a virtude é sempre a mesma: querer se mostrar de alguma forma para as pessoas ou para o mundo, alimentando a tola ideia de que os outros o condecorarão como bons.
De que adiantaria um capoeirista buscar a posição de virtuoso sem que o seja ao menos no primeiro degrau da imensa escadaria que a mesma engendra? E pode alguém buscar uma posição e dizer que é a da virtude? Se relembrarmos o que dissemos anteriormente, a virtude não faz alarde do que é, pois ela é uma muda de ações sublimes, e semelhante ao pêmdulo de um relógio que realiza a batida no espaço e no tempo, mas fica aos olhos daquele que vê, dizer que hora marca...
Aquele capoeirista que apreciar a virtude, deverá ter como uma de suas primeiras tarefas o esquecimento de si mesmo; do bem que fez e de seus resultados, pois a “moeda do caridoso” não lhe chega pelas vias do ego, que é personalista ou sensacionalista, mas tão-só pela felicidade íntima de ver o serviço cumprido, e nem mesmo espera pelo resultado, pois este pertence a uma ramo que foje aos domínios da exaltação do Ego.  
            Nesse sentido, Adams que citamos acima, chega a reconhcer que “virtude moral é [...] o que é pela “a excelência do caracter moral” que em si mesmo contêm. Ora, se o caracter moral aqui pode dar cabo das virtudes morais, então, pressupomos que as intenções primárias de um capoeirista que as use e as desenvolva na sua linguagem verbal e corporal, extensificando-a nos seus atos incontroversos pela força de exemplos continuados e concordantes com as intenções nele percebidas, pode então essa virtude moral a que nos referimos, ser um dia “ a excelência do caracter moral” de qualquer capoeirista que se esforçe para obtê-la.
Este autor define virtude moral como pessistindo na excelência para o bem (2006: 14). Embora essa ideia não seja tamanha novidade, pois Buda, Confúcios, Sócrates e Jesus a demonstraram com muita veemência. Parece conter mesmo assim tal pensamento, uma qualidade brilhante, mesmo que seja tão-somente a de relembrar o que outros hajam dito.
            Uma grande questão, no entanto, em torno dessas posições do Senior Adams seria: onde estaria uma excelente persistência no desenvolvimento moral e virtuoso para o bem no capoeirista? Poderiamos tentar por em prática tais ideias? Como seria possível no campo prático, particularmente na roda e no jogo? 
            Tal tentativa para nós no mundo da capoeira, por outro lado, não deveria pretender ser um caminho com as pretenções “do perfeitinho” dentro das nossas necessidades práticas e de urgência, mas como algo possível para o devir a ser.    
            De qualquer maneira, se dermos início a tais tentativas, empregrando mais respeito aos direitos dos outros capoeiristas, e em relação à nossa capacidade de se melhorar na escala moral, aqueles que nos observam ao seu turno não tardarão a nos respeitarem também, tanto quanto a pensarem em avançar rumo a algum caminho positivo. Porquanto podem estar sem que o percebam sendo influenciados por nossas atitudes. É uma troca de valores e ao mesmo tempo uma conquista, não há mágica ou qualquer prozelitismo, o mundo relacional é ético e para o bem, que se constroi nos valores porfiados na relação boa e na rentidão ou de acordo com os princípios da moralidade, que segundo Hegel é a ética na pratica.
            Mesmo no âmbito dos velhos mestres de capoeira do passado, podemos ver essas coisas que afirmamos.
            Fred Abreu num livro de sua autoria chamado o Barracão do Mestre Waldemar, mensiona, que Mestre Waldemar dizia:

Nas minhas rodas não tinha barulho, porque quando eu cantava a rapaziada vinha toda render obidiência assim. Me respeitavam muito os meus alunos. E não tinha barulho porque eu olhava para eles assim, eles vinham pro pé de mim e ninguem brigava (Abreu, 2003, p. 40).

            Abreu lançando algumas considerações (antes dessa nota de M. Waldemar) sobre o trabalho de M. Waldear, diz: “ Waldemar tinha autoridade legitimamente construida, por ser emanada e exercida em nome da comunidade do local” (ibidem).
            Entende-se de certo aqui, que não somente o respeito, mas a construção de atributos    (e quem sabe entre eles alguma virtude), se faz com algumas qualidades impostas por nós ao nosso próprio carater, a fim de que possamos grangear não somente a simpatia dos outros, tal como Mestre Waldemar, mas o respeito que mestres como Pastinha, Bimba e tantos outros conseguiram.
            Pensamos que a busca dessa condição (a virtude) da alma humana, que ora tentamos desenvolver no âmbito da capoeira, se faz necessária, se não urgente.   
            Ignorando essas coisas, talvez não sejamos um desgraçado ou um malvado, mas pelo fato de um capoeirista não desejar ser bom ou fazer o bem para si mesmo e para o próximo, estará na condição de um negligênte dos talentas que o Senhor da Vida lhe concedeu, pois “a todo momento, um homem de grande virtude segue o caminho, e somente o caminho” (Lau Tzu:1963). Este caminho a que Tzu, contemporaneo de Confúcios se referia, era, segundo ele, escuro, indistinto, pois não era claro para os caminhantes que somente lançam os olhos na matéria, mas quem sabe menos arduo para os homens de espírito meticulosos e ávidos pela essência das coisas e sua função na vida prática. Diriamos mesmo que este caminho reto, justo e benevolente, não poderia em função das condições da virtude, ser seguido sem prazer, sem uma vontade sinsera e alegre.
Aristóteles reconhece em Ética a Nicȏmaco “[q]ue se considere adicionalmente que o homem que não esperimenta prazer na prática de ações nobres não é, em absoluto, um bom homem”. Aristóteles nos informa ainda que reconhcer, claro, sem alarde os nossos atributos, pode significar a confirmação sensata e merecida dos mesmos, quando afirma que: “Ninguém chamaria de justo a um homem que não gostasse de agir com justiça, nem de generoso se não gostasse de praticar ações generosas e, do mesmo modo, no que se refere as demais virtudes” (2007: 53).
            E que tais atributos não sejam esperados pela velhice, como fora mensionado em conversação inicial neste capítulo, a fim de querermos buscarmos ou alcançarmos a virtude em momentos da vida onde as lutas e provas da vida não poderiam nos garantir a certesa de que temos fortaleza para superar vícios, o nosso orgulho ou más inclinações. Não esperemos também, ser caridosos tão somente porque um programa de televisão ou alguem nos empurrou para tal.
O cultivo de alguns sentimentos ou virtudes é trabalho a ser desenvolvido desde a juventude; ou melhor, desde tenrra idade, para que na maturidade tentemos obter a consagração do que lutamos ou almejamos. Pautando os nossos caminhos numa educação que atingirá a nossa conduta e por fim o nosso caracter em profundidade, e não apenas na etiqueta social, que muitas vezes se mostra mais como um vicio do que como virtude. Pois a prática polida de ações duvidosas com as que mencionamos, parece mais com hábito vícioso do que virtuosidade.
Platão em A República, livro III, assegura que:

Efetivamente, o vício não poderá jamais conhcer-se a si à virtude, ao passo que com o tempo, a virtude, se as qualidades naturais forem aperfeiçoadas pela educação, atingirá o conhecimento cientifico de si mesma e do vício. Tal será o sábio, em meu entender, mas não o perverso (2002: 103).

Portanto, um tipo de virtude deve ser cultivado de cedo, e não aguardarmos velhice para adquerí-lo.
Em torno desse ângulo de idéias, podemos observar  no pensamento do filósofo Humberto Rudhen quando ele diz que, “[m]elhor do que viver 50 anos corretamente,” seria mais proveitoso cometer todos os desvios e não se preocupar com virtude, bondade ou maldade, pois a pessoa sabe, por lhe ser incultido na mentalidade através do culturalismo religioso, que se se arrepender no ultimo instante, será salvo, assim como frizamos paginas anteriores.
            Rodhen acredita que ao invés dessa proposta (de se regenerar no ultimo minuto de vida) ser moral, ela tráz as marcas visíveis da imoralidade, pois o homem não se preocupará em cultivar seu espírito para o bem, para viver corretamente, honestamente durante toda a vida. Mas poderá viver um tanto quanto irresponsavel, já que haverá o protecionismo relâmpago das ultimas horas, assim como acontecera com o senhor Adão, pai dos hebreus e meu conhecido através de leituras. Este que o chamam de Adão, o Gênesis diz: “Não comerás o fruto da ciência do bem e do mal”.[1] Porém, como na sua quase totalidade os homens antigos tanto quanto os nossos contemporâneos têm o dom da teimosia, Adão se fizera de lesado ou de esquecido, e comera esse tal fruto. O que não lhe acarretara nenhum vexame ou qualquer desgraça, considerando que fiseram-no viver ainda 930 anos, apesar de ele, Eva e a danada duma cobra falante estarem juntos no momento dessa refeição desastrosa, que resultou num delito em flagrante, e que ele não podia colocar a culpa em Eva, sua submissa, e nem na cobra, sua inferior na escala dos seres, segundo anuncia o próprio Gênesis. Apesar disso, a sábia cobra demostrou mais sagacidade do que Adão (seu superior) na arte do convencimento. Claro, porque naquela época os animais além de falar, ludibriavam os homens com uma dialética que nem Sócrates, nem Hegel ou Karl Marx dominaria.
De maneira que, algumas crenças não somente religiosas, mais culturais e mesmo cientificas, ou melhor, pseudo-cientificas, nos ensinam algumas coisas que se dejarmos aplicá-las com justiça e rentidão no mais profundo de nossas consciências, nenhuma coisa se conectará com a outra. E onde aparecerá qualquer manifestação de virtude nas ações da pessoa? Em lugar nenhum, pois não se pode ser virtuoso, sendo ao mesmo tempo um inconsequente; não podemos perceber em ações que almenos traga o “cheiro” da virtude, se nas atitudes da pessoa não houver uma relativa pureza na idéia a priori, ou seja, naquelas que nos chegam sem a intromissão da experiência.
            É preciso, pois, criarmos uma consciência de valor em cadeia sistematicamente crescente, a fim de que possamos alcançar os porticos da virtude.
            “O homem da ciência, diz Einstein, decobre os fatos da natureza, mas o homem de consciência realiza valores dentro de si mesmo” (Rohden, 1990, p. 136).[2]
            A busca da virtude pelo capoeirista, portanto, através do que ele pensa e do que faz, seria possível, se ele não pensasse em impossibilidades, seria mais praticável se ele não estivesse tão longe em atos em relação ao que pensa. Sócrates recusava-se a praticar determinada atitude que viesse a ser desconectada com as proporções dos deveres conciencias, morais e de justiça de si para consigo, e para com a polis grega, isto é, para com a cidade Estado, ou simplismente Estado. Ele assegurava que não fazia tal coisa, ou não deixava de realizar tal outra, por que um ser divino soprava-lhe no intimo e ao mesmo tempo lhe sustentava a não desviar-se do caminho reto. Isto que ocorria com Sócrates não foi e ainda hoje alguns escritores tendem a lançar considerações um tanto quanto caprichosas, dizendo que ele tinha um demȏnio ao seu lado. Mas se todos nós tivessemos um demȏnio tão prudente, calteleso para com o livre-arbítrio dos outros, e ao mesmo tempo cheio de compaixão, o que seria de nossas vidas?
Nestes acontecimentos de Sócrates, podemos sugerir que uma grande descoberta sobre a virtude no que concerne ao pensar e o agir surgira. Pois como se ver numa narativa, Sócraates diz sobre tal voz que o auxiliava: “é como uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde quando era menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detêm a fazer aquilo que estou a ponto de fazer, mas que nunca me exorta a fazer” (Reale/Geovane 1990:94-95).
Parece-nos de alguma sorte, que esta razão tão apurada e ao mesmo tempo virtuosa de Sócrates haver se transformado naquilo que Kant denominaria mais de 20 séculos depois de: razão pura prática e no que possivelmente inspirou-o a idéia do chamado imperativo categórico, ou seja: “Age de tal modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre como princípio de uma legislação universal”( Kant, 2004, p. 40).



[1] A respeito dessa assertiva bíblica, Voltaira no seu Dicionário Filosófico assegura: “ É difícil conceber que exitisse uma arvore capaz de ensinar o bem e o mal, tal como existem pereiras e damasqueiros. De resto, porque razão não queria Deus que o homem conhecesse o bem e o mal? Não seria o contrário muito mais digno de Deus e muito mais necessário ao homem?” (1973:204). Ademais, não sabemos por qual razão pessoas teimam em dizer que Adão foi o primeiro homem da criação e que Eva foi a primeira mulher, pois a “[t]eologia tradicional tem utilizado declarações bíblicas sobre Adão em sua doutrina da humanidade e sua relação com Deus” (Livingstone 2006:6), tal como vemos em dicinários franceses e ingleses sobre o significado de Adão ou Adam. 
[2] Nesta obra do filosofo Humberto Rohden, O Homem e o Universo, ele assegura que “[p]or vezes, a obdiência aos valores é dificil e dolorosa; mas a consciência, que é o éco dos valores, exige imperiosamente que o homem obedeça a essa norma imutável” (ibid).

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Pequena parte de um capitulo do Por Uma Ética na Capoeira VOLUME I. Apresentado no Brasil 09/2013



10 Relações éticas e virtude como poder que irradia na ideia da intuição do capoeirista.

Aquele que exibe sua virtude não é virtuoso, uma vez que lhe falta a qualidade principal: a modestia, e tem o vício mais contrário: o orgulho (Madaleine, 1989, p. 228).

“A virtude verdadeiramente digna desse nome, não gosta de se exibir, é advinhada [...], se oculta na obscuridade e foge da admiração das multidões” (Madaleine, 1989, p. 228).
            Essa mensão nos leva a formular uma série de indagações importantes nas nossas relações capoeiristicas. Sobretudo se presamos ou desejamos presar por ações que sejam dignas, honrradas, que visem educar o mal carater e deixar a boa conduta se expressar não de modo artificial em nós, mas de um modo que deve visar, antes de qualquer coisa, conectar-se com a justiça, com a caridade, estabelecendo ainda em nossos entendimentos uma noção maior de tudo isso. Diriamos mesmo que poderia se encontrar neste campo de apreciação, um meio para compreendermos melhor as necessidades e direitos de outros capoeiristas, onde a intenção para agir com certa medida em relação aos outros, resultaria do próprio entendimento que empregamos para com nós mesmos.
            Estas noções podem nos apontar, de alguma forma, ideias possíveis sobre a virtude. E, acreditamos seja uma boa base para o início de uma longa caminhada que culminará na formação de uma conduta e de um carater que de alguma sorte podem interagir com a virtude.
Óbvio se pense, que há outros caminhos, existem outros modos e pontos de vistas a cerca da aquisição de um ou mais modos de apresentar a virtude ou do que vem a ser a mesma, mas supomos que para o capoeirista, sobretudo porque sua paciência e força moral é testada a cada momento na roda e no jogo, se faz necessário que pensemos os caminhos da virtude, embalando-a dos componentes da conduta moral prática e de um carater ético ativo e consciênte sobre a busca e manutenção da harmonia. Pelo contrário, dificilmente o capoeirista poderá se sustentar perante os contratempos da própria indiciplina bem como da inconsequência de outros capoeiristas e seus atos. Paciência neste mister é também virtude; a qual desejamos chamar de ciência da paz.

domingo, 2 de setembro de 2012

Material publicado na Capoeira Magazine da Inglaterra


Cadê o Besouro, chamado Cordão de Ouro...

Entre verdades mentirosas e mentiras verdadeiras; de nascimentos e mortes antes e depois do início de nada, que se confundem na poeira do tempo, Besouro resplandece na intimidade da condição mística e cultural de cada capoeirista.

Preliminar

Esta abordagem sobre Besouro de Mangangá, encerra dois pontos principais: o primeiro visa perceber a condição da lógica de alguns casos envolvendo Besouro, e o segundo trata-se de uma observação sobre a questão das datas de nascimento e de morte desse mito mundialmente famoso na Capoeira. Tanto uma como a outra discussão nos mostra ambiguidades. Contudo, empeleitamos a tarefa de tentar observar na primeira certos modismos explicativos sobre casos envolvendo Besouro e na segunda, algumas confusões sobre datas de nasciemento e de morte onde veremos que em ambas criaram em Besouro várias idades diferentes. Se algo nos inclinou ao satirismo na primeira observação em relação aos casos, tentamos no entanto na segunda, desenvolver a discussão do ponto de vista da lógica factual mostrando a divergência de afirmações. Tentemos meditar onde se encontra a importância dessas questões envolvendo Besouro, e quem sabe desse modo, possamos enchergá-lo como um “segredo do passado” que “não pertence ao historiador.” Pois para o mundo da Capoeira ele “É um bem da humanidade” (Gerardo, 2003: 323).



            Notícias históricas que possam revelar quem era de fato Besouro Mangangá, e mesmo a idade real desse lendário capoeirista, transformaram-se em questões ambiguas, incertas e em discussões variadas... Criações míticas, istórias impressionantes e contos populares, no entanto, temos bastante! De modo que a pouco e pouco a viagem de Besouro está se fortalecendo na esteira do tempo, seja do ponto de vista histórico ou não-histórico. Diria mesmo que se Besouro já se tornou um Ser cultural, não desejemos nos tornar caçadores de besouros, dragões ou de sacy pererê e, pelos frenéticos ofícios da incúria, tentarmos “destruir” os sabores orais que existem nas histórias da cultura popular brasileira e mais precisamente capoeiristica. 
            De qualquer modo, tentaremos observar nesta PRIMEIRA PARTE, alguns pontos sobre esta personagem marcante para a mentalidade capoeiristica nalguns casos e obras ou escritos cheios de estripulias contendo o nome de Besouro. Veremos, portanto, que aqui e alí Besouro fora lembrado ora como valentão, doutra feita como homem bom. Mais além como imbatível, o mandingueiro do desaparecimento...
            Os casos considerados mais aproximados, diz-se que podemos encontrar nos trabalhos Mar Morto de Jorge Amado, Capoeira e Mandingas de Mestre Cobrinha Verde. Há também na obra de Waldeloir Rego, Capoeira Angola; Ensáio Sócio-Étnografico, bem como nos dois trabalhos de Antônio Liberac (Bimba, Pastinha e Besouro de Manganga e A Capoeira na Bahia de Todos os Santos), doutor em História, e, por fim, pode-se observar nas excelentes pesquisas de José Gerardo Vasconcelos, doutor em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará, valiosos apontamentos. Este escreveu como parte de estudos de pós-doutorado desenvolvido junto ao programa de Pós-Graduação em Artes e Ciências, da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, em 2002, um estudo intitulado: Besouro Cordão de Ouro: A Pedagogia da Malandragem Cantada nas Rodas de Capoeira, que traz uma curiosa visão de ensino da capoeiragem utilizada por Besouro, segundo Gerardo. E mais recentemente (2009), Gerardo publicara um livro cujo título: Besouro Cordão de Ouro, o capoeirista justiceiro, tenta nos mostrar alguns mistérios a mais sobre Besouro.
            Contudo, desejamos prenunciar sem qualquer serimônia, que se o capoeirista ou pesquisador que procurar buscar de modo concreto o começo, o meio e o fim da vida de Besouro, mesmo debruçando-se sobre estes e outros fatos, desejando a “verdade”, não pode ter problema de nervoso como diria Mestre Waldemar da Paixão. Pois se os fatos nos levam a perguntar até hoje cadê o Besouro que existiu e onde se encontra aquele outro Besouro que algumas mentes muito dadas a imaginosidades sugerem abusivamente, seja em algumas afirmações por meios orais, seja pelas vias escritas, pode-se dizer com maior razão ainda para alguns senhores e senhoras que, deixem no meio mítico, folclórico e do misticismo que há no cotidiano capoeiristico, este mito chamado Besouro correr como uma flecha atirada ao vento que voará idubitavelmente sob os impulsos dos domínios das crênças populares. Porquanto, como escreveu Nietzsche no seu livro Da Utilidade e do Inconveniente da História para a Vida,o ponto de vista histórico, bem como o ponto de vista não-histórico, são necessários para a saúde de um indivíduo, de um povo e de uma civilização” (2008, p. 23).
            Houve aqueles, entretanto, que ao abordar qualquer ideia sobre Besouro, decidiram imprimir certos cuidados em suas ponderações, enquanto outros peregrinaram, embora sem certesa, com a boca cheia de verdades... E diria sem a chacota em voga, que ao invés de perguntarmos em algumas istórias cadê o Besouro, devemos indagar: onde se encontra o bom senso...
            Numa certa istória, contem: “Besouro também não gostava de polícia. Muitas vezes encontrava companheiros que iam presos e os tomava da mão de qualquer soldado, batia em todos, tomava-lhes as armas, levava-as até o quartel e dizia: tá aqui, seus morcegos e jogava as armas.”
            Nos perguntamos sobre esta istorieta que tem Besouro como personagem, como ele pode ser apelidado de justiceiro, cometendo a injustica de tomar um amigo seu da mão de qualquer soldado [...] sem saber o que diábos estaria fazendo tal “amigo”. E para assustar mais, diz ainda este caso: e batia em todos? Mas que desgraça para aquela sociedade... Um único homem bater nos policiais que deveriam servir-lhes de segurança... E, a posição mais impressionante de Besouro aqui é que ele haje como se fosse uma lei que enfrentava a lei, onde tudo fica sem lei quando ele tomava-lhes (dos policiais) as armas, levava-as até o quartel e dizia: "tá aqui, seus morcegos" e jogava as armas. Eu até posso imaginar um combóio de policiais cabisbaixos na frente e Besouro atrás com muitas armas nos ombros, assim como um lenhador com um feixe de varas. Mas quantos soldados haviam neste quartel? Ninguem podia fazer nada com Besouro? Ave...
            Nesta outra há: Um dia ele estava em frente ao Largo da Cruz e passou um soldado. Besouro o forçou a tomar uma cachaça. O soldado saiu dali para o quartel e fez queixa ao tenente que mandou 10 soldados para prender Besouro, vivo ou morto. Chegando lá deram ordem de prisão. Besouro saiu do botequim de costas, foi para a cruz, encostou-se nela, abriu os braços e disse que não se entregava. Os soldados começaram a atirar. Besouro fingiu está baleado e caiu os soldados acharam que ele estava morto e se foram. Besouro então se levantou e saiu cantando.
            Quando se percebe que sairam “10 soldados para prender Besouro, vivo ou morto”, e não presumimos o tamanho da trêmula coragem desses soldados, mas chegando lá deram ordem de prisão. Ainda assim Besouro saiu do botequim de costas, foi para a cruz, encostou-se nela, abriu os braços e disse que não se entregava. Mas os soldados começaram a atirar. Após um tirotéio patético e a êsmo, Besouro fingiu está baleado e caiu, os soldados acharam que ele estava morto e se foram.
            Não sabemos se estes soldados que sairam para prender Besouro eram surdos ou não entendiam bem a ordem do tenente, tanto quanto se sabiam o que seria uma ordem, pois se 10 homens saem para prender outro vivo ou morto, como é possível após uma ordem de prisão por eles empreitada, deixá-lo sair do botequim de costas? E tiveram a paciência ou quem sabe a tolice de esperá-lo fazer um certo teatro até a cruz, onde encostou-se nela, abriu os braços e disse que não se entregava? Há quem diga que Besouro saira cantando, e chegaram mesmo a colocar versos na boca dele não somente para engrandecê-lo, mas provavelmente para criar-se afirmações mitificadoras entre a polícia e Besouro. De qualquer modo, começaram a atirar, sem sucesso, talvez porque as balas fossem de festin, ou ainda porque todos precisassem de óculos ou de passar por um treinamento numa mira de uns 10 metros de diâmetro. Besouro fingiu está baleado e caiu, os soldados acharam que ele estava morto e se foram. Não sabemos como todos tiveram a mesma ideia que Besouro estivesse morto. Talvez faziam parte da seita do achismo coletivo e se fossem peritos, todos deveriam perder o emprego... Além disso, parece que todos os soldados tinham o dom da teimosia, pois não levaram Besouro vivo ou morto, conforme a ordem do tenente que deve ter entrado por um ouvido e saido pelo outro. E haja paciência...
            O caso da Fazenda Maracangalha, envolvendo um certo Dr. Zeca e o filho dele chamado Memeu é daqueles que quase todos os capoeiristas sabem ou já leram no senhor google, onde há talvez umas 38 versões doferentes, e cada uma é modificada ao menos uma palavra ou letra nos casos, a fim de se fazer original em meio a uma plateleira de genéricos... Mas, tão-somente para relembrarmos alguns detalhes deste caso, consideramos primeiramente que o próprio Besoura levara uma carta do Dr. Zeca, pai de Memeu, para ser entregue na Fazenda Maracangalha, para onde Besouro teria sido remanejado por ter feito sei lá o quê com o mimado Memeu. Como Besouro segundo alguns era analfabeto, não pôde ler a carta, mas o admistrador, a quem a carta deveria ser entregue para contratar a morte de Besouro alí mesmo, pediu que Besouro esperasse até o outro dia. E muito educadamente, pacificamente, o auvoroçado Besouro de outros momentos esperou até o outro dia. Não sabemos contudo, como apareceu 40 homens que deram muitos tiros (segundo a imaginação do autor deste caso), mas nenhum acertara Besouro. Todavia, apareceu qual um sacy pereré, um homem que até o apelidam de Eusébio de Quibaca, que deu uma facada de tucum em Besouro, vindo o mesmo a falecer.
            Bom. se Besouro era analfabeto, isso seria possível, mesmo que seja raro que se prove, mas se ele tinha o corpo fexado, se era mandingueiro, esperto, um homem cheio de sabedoria mística, como poderia ele levar uma carta onde na mesma continha a sua sentensa de morte e nada iria sentir, pensar ou esboçar qualquer reação, já que era um ser com poderes mágicos? Talvez alguma senhorita do prostíbulo o qual consta nesse caso, e que afirmam ter Besouro passado a noite por lá, roubara os seus atributos, qual consta na lenda que Dalila cortara os cabelos de Sanssão (talvez este estivesse dopado), tirando assim as suas forças. Sobre os 40 homens que apareceram e deram muitos tiros, em vão, temos que pensar pelo menos que todos sofressem de miupía severa, pois nenhuma bala acertara Besouro. Também, esta pessoa que contratou tantos homens para matar somente um, nem tinha problemas de guardar segredos sobre as mortes por ele autorizadas, tampouco de reconhecer que muitos homens que faziam este serviço fossem muito ruins de gatilho... Pensem nuns atiradores de “responsa”! 
            Mas, deixando um pouco esses casos, passemos a observar a SEGUNDA PARTE destes escritos, onde consta que escritores respeitados foram mais cuidadosos ao escreverem sobre Besouro.
            Waldeloir Rego, como se pode ver, nada mais dissera sobre Besouro quando tratou da questão no seu livro Capoeira Angola, Ensáio Sócio-Étnográfico no tema: Capoeiras Famosos e seu Comportamento na Comunidade Social, do que o que ouvira de Mestre Cobrinha Verde. Não quis trabalhar com datas, talvez tivesse bons motivos para não as mencionar.
            Antônio Liberac Cardoso Simões Pires, no entanto, afirmara no seu livro Bimba, Pastinha e Besouro de Manganga, “que Besouro de Mangangá nasceu na cidade de Santo Amaro da Purificação no ano de 1885” (2002, p. 18).  Ele nos informa ainda numa citação na página 32, final desse estudo sobre Besouro e a cidade de Santo Amaro da Purificação, extraido de uma certidão de óbito, que:

Manuel Henrique, mulato escuro, solteiro, 24 anos, natural de Urupy, residente na Usina Maracangalha, profissão vaqueiro, entrada no dia 8 de julho de 1924 às 10 horas do dia, falecendo às 7 horas da noite, de um ferimento perfuro-inciso do abdomem (2002, p. 32).

            Notemos a questão da idade citada nesse documento, 24 anos. Ora, se Pires afirma que Besouro nascera em 1885, há uma possibilidade de desencontro com a certidão de óbito. Pois, como consta no documento acima, fora registrada a entrada de Besouro em 1924, falecendo em julho desse mesmo ano, às 7 horas da noite. Quem gostar de matemática, pois eu não sou muito fã dessa ciência, perceberá que se Besouro dera entrada em 1924 (e nesse mesmo dia vindo a falecer), seja lá onde for, contando 24 anos, o mesmo não poderia ter nascido em 1885, pelo contrário teria 39 anos à época mencionada pelo documento, e não 24. Isso se ele nascera em 1885, como consta no livro do doutor Simões Pires.
      Numa nota (39) a essa questão da idade de Besouro, Pires diz:

A informação sobre a idade de Besouro de Mangangá na documentação referente ao Arquivo Público do Estado da Bahia difere sobre a idade informada na documentação referente ao Arquivo Municipal de Santo Amaro da Purificação, mas os demais vestígios confirmam ser a mesma pessoa (2002, p. 100).   

            Pires não apresentou a data do outro arquivo mencionado... De modo que, não sabemos qual dos arquivos pode ser o mais aproximado dessa realidade envolvendo Besouro, ou se são diferentes da certidão de óbito, ou ainda, se trazem diferenças consideráveis em relação a outros documentos.
            Gutembergue, todavia, jornalista profissional formado pela Escola de Biblioteconomia e Comunicação da UFBa, assegura que “ No dia 8 de julho de 1924 Besouro se despedia da vida de valentão com apenas 28.” Aqui teríamos mais uma data da idade de Besouro se comparmos a data de morte – 1924 – menos a idade – 28 – que Gutembergue mensiona que Besouro morrera, constará que ele nascera em 1896.
            Ora, levando-se em consideração essa informação (que Besouro morrera aos 28 anos, segundo Gutembergue), haveria assim, 11 anos de diferença entre a data de Pires – partindo de 1885 – e a de Gutembergue que dataria Besouro de 1896 para 1924. Contendo ainda 4 anos de diferença em relação à certidão, pois, se ele morrera aos 24 anos em 1924 como estamos enfadados de ouvir, teria nascido em 1900. Dessa maneira, ele teria uma diferença significativa de idade, não somente se compararmos com as datas de Simões Pires, mas com as da certidão de óbito e outras datas exóticas.
            De qualquer modo, se quisermos combinar, por outro lado essas datas da idade de Besouro com as mencionadas pelo doutor José Gerardo Vasconcelos, não encontraremos muita coisa em comum, pois este afirma que “ Em 1912, quando Cobrinha Verde inicia seus estudos de Capoeira, o seu mestre – Besouro – tinha 17 anos. Era muito jovem, mas sua fama já corria o mundo ” (2003, p. 315).
            Aqui se pode perceber que se em 1912 Besouro contava com 17 anos de idade e morrera em 1924 segundo a certidão de óbito citada paragrafos anteriores, a idade seria a seguinte: Se em 1912 ele contasse com 17 anos, teria nascido em 1895. E se falecera em 1924 teria sido aos 29 anos e não aos 24 como afirma a certidão. Isso mostra discordância, ainda que não seja considerável em relação com as contagens já citadas.
            Num novo trabalho do Dr. Gerardo: Besouro Cordao de Ouro, o capoeirista justiceiro, ele nos informa que documentos encontrados numa pesquisa atestam que          “ Besouro naceu em 1895.” Gerardo conta que: “ Esta data tem como referência o processo movido contra Besouro que resultou na sua expulsão do exército em 1918. O referido documento (PEREIRA, 1918), atesta que Besouro tinha 23 anos a época” ( 2009:23). Contudo, “ o ano da morte” tal como assegura Gerardo, “ que tambem representava uma grande disputa de informações, foi em 1924, de acordo com documentos encontrado no Arquivo Municipal de Santo Amaro” (ibidem).
            Nos parece com base nas próprias evidências apresentadas, que Besouro apesar de todos esses reboliços, teria se seguíssimos as datas de Gerardo, a mesma idade quando nascera e quando morrera, ou seja, 1895-1924. Pois se nesta segunda fala de Gerardo Besouro contasse com 23 anos em 1918, mas houvesse morrido 6 anos depois, isto é, em 1924 segundo vemos na afirmação de Gerardo, Besouro teria exatamente 29 anos quando falecera, isso se seguirmos essa documentação, como já dissemos.
            Mas Zilda Pain, historiadora baiana que pesquisara segundo Gerardo (à época citada) a cidade de Santo Amaro a pelo menos 53 anos, nos informa que quando a mesma abordou um tema sobre Besouro no seu Relicário Popular, sugeriu que:

Foi fria e covardemente golpeado em maracangalha no lugar de nome Quimbeca. Veio para Santo Amaro em canoa, ficando no porto de frente a loja nova, até que foi transportado para a Santa Casa de Misericódia onde faleceu aos 32 anos de idade (Pain, apud Gerardo. 2009:32).

            Ora, se a maioria concorda que Besouro morrera em 1924, tomado de imprestimo tal afirmativa de uma declaracao da Santa Casa de Misericórdia, mais se a historiadora acima data a morte de Besouro com 32 anos de idade, então o mesmo teria nascido em 1892.
Gerardo considera seja “ provavel que a Santa Casa de Misericórdia de Santo Amaro não tenha obtido informações mais precisas sobre o ano de nascimento de Besouro e lançou de forma mais ou menos aleatória a idade do paciênte”. Gerardo entende por essas razões, que seria melhor “ crer que o ano do nascimento de Besouro ainda é desconhecido” (2009:24).
            Como vemos, se as datas apresentam certos desencontros, isso nos leva a considerar que se essas questões básicas, mas importantes, nos deixam qual cego em meio a um tirotéio sobre a idade de Besouro, podemos sugerir sem qualquer prejuizo que os fatos do cotidiano envolvendo a vida dele sejam forçosamente criações da miltologia popular que tentou como por encanto, exaltar os feitos envolvendo esta personagem enigmática da Capoeira do início do século XX. Entretanto, apesar de alguns casos serem empolgantes, belos e de já terem suas raízes culturais fincadas na cultura popular brasileira, como mencionado nas primeiras observações desse tema, isso não nos impede de lançarmos algumas considerações que entendemos sejam construtivas para a literatura capoeiristica.
            Contudo, isso não nos deve impedir de admirar, imaginar e pensar com entusiasmo sobre essa personalidade marcante, pois, como diria o doutor José Gerardo, “ Besouro representa a construção de um mito popular.” Diz ainda: “ É que o segredo do passado não pertence ao historiador. É um bem da humanidade ” (2003, p. 323).


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e-mail: manoel.limadesousa@yahoo.co.uk Mestre Chitãozinho é escritor com 4 publicações. A Capoeira Sob Uma Nova Visão, Ética, Diciplina (2000). ABC, da Capoeira (2006), Consciência Capoeiristica (2008 com nova ed.em 2011) e A Morte de Besouro Mangangá (2011). É graduado em História (Universidade Estadual Vale do Acaraú, no Brasil), Cursou Ciência e Religião (Instituto Faraday ligado à Universidade de Cambridge UK). Atualmente está cursando  Mestrado em Filosofía pela Open University Britânica.

Bibliografias consultadas.

CAVALCANTE, Maria Juracy (org.). Biografias, instituições, ideias, experiências e políticas educacionais. Fortaleza: Editora UFC, 2003.
NIETZSCHE, Friedrich Wilhelm, Da Utilidade e do Inconveniênte da Hisrória para a Vida. Editora Escala, São Paulo, SP, 2008.
PIRES, Antônio Liberac Cardoso Simões, Bimba, Pastinha e Besouro de Mangangá: três personagens da capoeira baiana. Tocantis Goiânia/ Grafset, 2002.
PIRES, Antônio Liberac Cardoso Simões, A CAPOEIRA NA BAHIA DE TODOS OS SANTOS, um estudo sobre cultura e classes trabalhadoras (1890-1937). Tocantis Goiânia: NEAB/ Grafset, 2004.
SOUSA, Manoel Lima de. “ Mestre Chitãozinho”, A Morte de Besouro Mangangá. Printpublich, Cambridge Inglaterra, 2011.
VASCONCELOS, José Gerardo. Besouro Cordão de Ouro, o capoeirista justiceiro. Fortaleza, Ce. Edições UFC, 2009.