10.1 Virtudes e idealísmos
ético-morais para o pensamento capoeiristico: por uma ideia de boa conduta no
cotidiano capoeiristico.
Isto que dissemos acima, não foje dos conceitos e
teorias recentes sobre a virtude, tal como vemos na publicação, Uma Teoria
da Virtude de Robert Merrihew Adams, renomado professor de Filosofia da Universidade
de Oxford da Inglaterra. Adams acredita “ que o valor de um ato pode
certamente divergir do caracter que produz este”. Ele entende que na
maioria dos casos, um caracter que deseja representar a virtude ou uma pessoa
que pretenda tal posição, pode acontecer que tal pessoa não seja realmente
virtuosa. Pois nem sempre a postura assumida condiz com as reais intenções de
quem a manifestou. Também, uma verdadeira virtude ou capoeirista virtuoso pode
ser considerado algo tão raro, que se deve admirar quando nos deparamos com uma
tal virtude. Pois o virtuoso não deseja ou quem sabe, nem se importa em querer
mostrar-se, ou se aparece, suas “pegadas” não diz de onde vem, e se alguém
sabe, este adivinhou, tal como o João de Barro (um passaro) que advinha a
chegada da chuva e constroi sua casa com a boca declinada para se proteger da
chuva. A conexão do João de Barro com o livro da Natureza, que ele sabe ler
intuitivamente, deveria ser pensado em relação ao capoeirista e a virtude moral
sublime, isto é, o capoerista deveria intuir do bem, se esforçar para
manifestá-lo, e querer como único resultado, a moeda do prazer de se felicitar
pelo bem que se faz aos esquecidos, que nos auxiliam a nos esquecermos da
necessidade de reclamar por certos benefícios ou ações que praticamos.
A conexão do João de Barro com o livro da Natureza,
que ele sabe ler intuitivamente, deveria ser pensado em relação ao capoeirista
e a virtude moral sublime, isto é, o capoerista deveria intuir do bem, se
esforçar para manifestá-lo, e querer como único resultado, a moeda do prazer de
se felicitar pelo bem que se faz aos esquecidos, que nos auxiliam a nos
esquecermos que devemos lembrar ou reclamar por certos benefícios pelas nossas
ações.
Este tipo de virtude, tem o cuidado para não ser
percebida no momento que os atos ou ações que a caracteriza são produzidos.
Caso contrário, qual a natureza do virtuoso que tagarelasse sobre sua virtude?
Quantas vezes se ver nos diálogos de Sócrates anotados por Platão, que ele saia
para as ruas de atenas para se vangloriar que havia “vencido” esse ou aquele
adversário numa conversassão, seja sobre o que tenha sido? De igual modo, vemos
nas anotações da vida do Cristo pelos seus seguidores, que ele não se
preocupava com a aprovação alheia, fosse do povo, fosse dos escribas e farizeus.
Madre Tereza de Calcutá, Gand, Chico Xavier e tantos outros que poderiamos de
algum modo considerá-los seres virtuosos, não vemos em suas vidas, que eles
solicitaram o jornal para divulgar uma bondade que haviam praticado, ou
desejaram colocar seus nomes em propagandas para dizer que foram eles quem fez
isso ou aquilo, e mesmo não se chegou a saber que fizeram mensão sobre qualquer
feito deles.
A catastrofi do orgulhoso que almeja a virtude é
sempre a mesma: querer se mostrar de alguma forma para as pessoas ou para o
mundo, alimentando a tola ideia de que os outros o condecorarão como bons.
De que adiantaria um capoeirista buscar a posição
de virtuoso sem que o seja ao menos no primeiro degrau da imensa escadaria que
a mesma engendra? E pode alguém buscar uma posição e dizer que é a da virtude?
Se relembrarmos o que dissemos anteriormente, a virtude não faz alarde do que
é, pois ela é uma muda de ações sublimes, e semelhante ao pêmdulo de um relógio
que realiza a batida no espaço e no tempo, mas fica aos olhos daquele que vê,
dizer que hora marca...
Aquele capoeirista que apreciar a virtude, deverá
ter como uma de suas primeiras tarefas o esquecimento de si mesmo; do bem que
fez e de seus resultados, pois a “moeda do caridoso” não lhe chega pelas vias
do ego, que é personalista ou sensacionalista, mas tão-só pela felicidade íntima
de ver o serviço cumprido, e nem mesmo espera pelo resultado, pois este pertence
a uma ramo que foje aos domínios da exaltação do Ego.
Nesse
sentido, Adams que citamos acima, chega a reconhcer que “virtude moral é
[...] o que é pela “a excelência do caracter moral” que em si mesmo
contêm. Ora, se o caracter moral aqui pode dar cabo das virtudes morais, então,
pressupomos que as intenções primárias de um capoeirista que as use e as
desenvolva na sua linguagem verbal e corporal, extensificando-a nos seus atos
incontroversos pela força de exemplos continuados e concordantes com as
intenções nele percebidas, pode então essa virtude moral a que nos referimos,
ser um dia “ a excelência do caracter moral” de qualquer capoeirista que
se esforçe para obtê-la.
Este autor define virtude moral como pessistindo na
excelência para o bem (2006: 14). Embora essa ideia não seja tamanha novidade,
pois Buda, Confúcios, Sócrates e Jesus a demonstraram com muita veemência. Parece
conter mesmo assim tal pensamento, uma qualidade brilhante, mesmo que seja
tão-somente a de relembrar o que outros hajam dito.
Uma
grande questão, no entanto, em torno dessas posições do Senior Adams seria:
onde estaria uma excelente persistência no desenvolvimento moral e virtuoso
para o bem no capoeirista? Poderiamos tentar por em prática tais ideias? Como
seria possível no campo prático, particularmente na roda e no jogo?
Tal
tentativa para nós no mundo da capoeira, por outro lado, não deveria pretender
ser um caminho com as pretenções “do perfeitinho” dentro das nossas
necessidades práticas e de urgência, mas como algo possível para o devir a ser.
De
qualquer maneira, se dermos início a tais tentativas, empregrando mais respeito
aos direitos dos outros capoeiristas, e em relação à nossa capacidade de se
melhorar na escala moral, aqueles que nos observam ao seu turno não tardarão a
nos respeitarem também, tanto quanto a pensarem em avançar rumo a algum caminho
positivo. Porquanto podem estar sem que o percebam sendo influenciados por
nossas atitudes. É uma troca de valores e ao mesmo tempo uma conquista, não há
mágica ou qualquer prozelitismo, o mundo relacional é ético e para o bem, que
se constroi nos valores porfiados na relação boa e na rentidão ou de acordo com
os princípios da moralidade, que segundo Hegel é a ética na pratica.
Mesmo
no âmbito dos velhos mestres de capoeira do passado, podemos ver essas coisas
que afirmamos.
Fred
Abreu num livro de sua autoria chamado o Barracão do Mestre Waldemar,
mensiona, que Mestre Waldemar dizia:
Nas minhas rodas
não tinha barulho, porque quando eu cantava a rapaziada vinha toda render
obidiência assim. Me respeitavam muito os meus alunos. E não tinha barulho
porque eu olhava para eles assim, eles vinham pro pé de mim e ninguem brigava
(Abreu, 2003, p. 40).
Abreu
lançando algumas considerações (antes dessa nota de M. Waldemar) sobre o
trabalho de M. Waldear, diz: “ Waldemar tinha autoridade
legitimamente construida, por ser emanada e exercida em nome da comunidade do
local” (ibidem).
Entende-se
de certo aqui, que não somente o respeito, mas a construção de atributos (e quem sabe entre eles alguma virtude), se
faz com algumas qualidades impostas por nós ao nosso próprio carater, a fim de
que possamos grangear não somente a simpatia dos outros, tal como Mestre
Waldemar, mas o respeito que mestres como Pastinha, Bimba e tantos outros
conseguiram.
Pensamos
que a busca dessa condição (a virtude) da alma humana, que ora tentamos desenvolver
no âmbito da capoeira, se faz necessária, se não urgente.
Ignorando
essas coisas, talvez não sejamos um desgraçado ou um malvado, mas pelo fato de
um capoeirista não desejar ser bom ou fazer o bem para si mesmo e para o
próximo, estará na condição de um negligênte dos talentas que o Senhor da Vida
lhe concedeu, pois “a todo momento, um homem de grande virtude segue o
caminho, e somente o caminho” (Lau Tzu:1963). Este caminho a que
Tzu, contemporaneo de Confúcios se referia, era, segundo ele, escuro,
indistinto, pois não era claro para os caminhantes que somente lançam os olhos
na matéria, mas quem sabe menos arduo para os homens de espírito meticulosos e ávidos
pela essência das coisas e sua função na vida prática. Diriamos mesmo que este
caminho reto, justo e benevolente, não poderia em função das condições da
virtude, ser seguido sem prazer, sem uma vontade sinsera e alegre.
Aristóteles reconhece em Ética a Nicȏmaco
“[q]ue se considere adicionalmente que o homem que não esperimenta prazer na
prática de ações nobres não é, em absoluto, um bom homem”. Aristóteles
nos informa ainda que reconhcer, claro, sem alarde os nossos atributos, pode
significar a confirmação sensata e merecida dos mesmos, quando afirma que:
“Ninguém chamaria de justo a um homem que não gostasse de agir com justiça, nem
de generoso se não gostasse de praticar ações generosas e, do mesmo modo, no
que se refere as demais virtudes” (2007: 53).
E
que tais atributos não sejam esperados pela velhice, como fora mensionado em
conversação inicial neste capítulo, a fim de querermos buscarmos ou alcançarmos
a virtude em momentos da vida onde as lutas e provas da vida não poderiam nos
garantir a certesa de que temos fortaleza para superar vícios, o nosso orgulho
ou más inclinações. Não esperemos também, ser caridosos tão somente porque um
programa de televisão ou alguem nos empurrou para tal.
O cultivo de alguns sentimentos ou virtudes é
trabalho a ser desenvolvido desde a juventude; ou melhor, desde tenrra idade,
para que na maturidade tentemos obter a consagração do que lutamos ou almejamos.
Pautando os nossos caminhos numa educação que atingirá a nossa conduta e por
fim o nosso caracter em profundidade, e não apenas na etiqueta social, que
muitas vezes se mostra mais como um vicio do que como virtude. Pois a prática
polida de ações duvidosas com as que mencionamos, parece mais com hábito vícioso
do que virtuosidade.
Platão em A República, livro III, assegura
que:
Efetivamente, o
vício não poderá jamais conhcer-se a si à virtude, ao passo que com o tempo, a
virtude, se as qualidades naturais forem aperfeiçoadas pela educação, atingirá
o conhecimento cientifico de si mesma e do vício. Tal será o sábio, em meu
entender, mas não o perverso (2002: 103).
Portanto, um tipo de virtude deve ser cultivado de
cedo, e não aguardarmos velhice para adquerí-lo.
Em torno desse ângulo de idéias, podemos
observar no pensamento do filósofo
Humberto Rudhen quando ele diz que, “[m]elhor do que viver 50 anos
corretamente,” seria mais proveitoso cometer todos os desvios e não se
preocupar com virtude, bondade ou maldade, pois a pessoa sabe, por lhe ser
incultido na mentalidade através do culturalismo religioso, que se se
arrepender no ultimo instante, será salvo, assim como frizamos paginas
anteriores.
Rodhen
acredita que ao invés dessa proposta (de se regenerar no ultimo minuto de vida)
ser moral, ela tráz as marcas visíveis da imoralidade, pois o homem não se
preocupará em cultivar seu espírito para o bem, para viver corretamente, honestamente
durante toda a vida. Mas poderá viver um tanto quanto irresponsavel, já que
haverá o protecionismo relâmpago das ultimas horas, assim como acontecera com o
senhor Adão, pai dos hebreus e meu conhecido através de leituras. Este que o
chamam de Adão, o Gênesis diz: “Não comerás o fruto da ciência do bem e do
mal”.[1]
Porém, como na sua quase totalidade os homens antigos tanto quanto os nossos
contemporâneos têm o dom da teimosia, Adão se fizera de lesado ou de esquecido,
e comera esse tal fruto. O que não lhe acarretara nenhum vexame ou qualquer
desgraça, considerando que fiseram-no viver ainda 930 anos, apesar de ele, Eva
e a danada duma cobra falante estarem juntos no momento dessa refeição
desastrosa, que resultou num delito em flagrante, e que ele não podia colocar a
culpa em Eva, sua submissa, e nem na cobra, sua inferior na escala dos seres,
segundo anuncia o próprio Gênesis. Apesar disso, a sábia cobra demostrou mais
sagacidade do que Adão (seu superior) na arte do convencimento. Claro, porque
naquela época os animais além de falar, ludibriavam os homens com uma dialética
que nem Sócrates, nem Hegel ou Karl Marx dominaria.
De maneira que, algumas crenças não somente
religiosas, mais culturais e mesmo cientificas, ou melhor, pseudo-cientificas,
nos ensinam algumas coisas que se dejarmos aplicá-las com justiça e rentidão no
mais profundo de nossas consciências, nenhuma coisa se conectará com a outra. E
onde aparecerá qualquer manifestação de virtude nas ações da pessoa? Em lugar
nenhum, pois não se pode ser virtuoso, sendo ao mesmo tempo um inconsequente;
não podemos perceber em ações que almenos traga o “cheiro” da virtude, se nas
atitudes da pessoa não houver uma relativa pureza na idéia a priori, ou seja,
naquelas que nos chegam sem a intromissão da experiência.
É
preciso, pois, criarmos uma consciência de valor em cadeia sistematicamente
crescente, a fim de que possamos alcançar os porticos da virtude.
“O
homem da ciência, diz Einstein, decobre os fatos da natureza, mas o homem de
consciência realiza valores dentro de si mesmo” (Rohden, 1990, p. 136).[2]
A
busca da virtude pelo capoeirista, portanto, através do que ele pensa e do que
faz, seria possível, se ele não pensasse em impossibilidades, seria mais
praticável se ele não estivesse tão longe em atos em relação ao que pensa.
Sócrates recusava-se a praticar determinada atitude que viesse a ser
desconectada com as proporções dos deveres conciencias, morais e de justiça de
si para consigo, e para com a polis grega, isto é, para com a cidade Estado, ou
simplismente Estado. Ele assegurava que não fazia tal coisa, ou não deixava de
realizar tal outra, por que um ser divino soprava-lhe no intimo e ao mesmo
tempo lhe sustentava a não desviar-se do caminho reto. Isto que ocorria com
Sócrates não foi e ainda hoje alguns escritores tendem a lançar considerações
um tanto quanto caprichosas, dizendo que ele tinha um demȏnio ao seu lado. Mas
se todos nós tivessemos um demȏnio tão prudente, calteleso para com o
livre-arbítrio dos outros, e ao mesmo tempo cheio de compaixão, o que seria de
nossas vidas?
Nestes acontecimentos de Sócrates, podemos sugerir
que uma grande descoberta sobre a virtude no que concerne ao pensar e o agir
surgira. Pois como se ver numa narativa, Sócraates diz sobre tal voz que o
auxiliava: “é como uma voz que se faz ouvir dentro de mim desde quando era
menino e que, quando se faz ouvir, sempre me detêm a fazer aquilo que estou a
ponto de fazer, mas que nunca me exorta a fazer” (Reale/Geovane 1990:94-95).
Parece-nos de alguma sorte, que esta razão tão
apurada e ao mesmo tempo virtuosa de Sócrates haver se transformado naquilo que
Kant denominaria mais de 20 séculos depois de: razão pura prática e no que
possivelmente inspirou-o a idéia do chamado imperativo categórico, ou seja: “Age
de tal modo que a máxima de tua vontade possa valer sempre como princípio de
uma legislação universal”( Kant, 2004, p. 40).
[1] A respeito dessa assertiva bíblica, Voltaira no seu Dicionário
Filosófico assegura: “ É difícil conceber que exitisse uma arvore capaz de
ensinar o bem e o mal, tal como existem pereiras e damasqueiros. De resto,
porque razão não queria Deus que o homem conhecesse o bem e o mal? Não seria o
contrário muito mais digno de Deus e muito mais necessário ao homem?”
(1973:204). Ademais, não sabemos por qual razão pessoas teimam em dizer que
Adão foi o primeiro homem da criação e que Eva foi a primeira mulher, pois a
“[t]eologia tradicional tem
utilizado declarações bíblicas sobre Adão em sua doutrina da humanidade e sua
relação com Deus” (Livingstone 2006:6), tal como vemos em dicinários franceses
e ingleses sobre o significado de Adão ou Adam.
[2] Nesta obra do filosofo Humberto Rohden, O Homem e o Universo,
ele assegura que “[p]or vezes, a obdiência aos valores é dificil e dolorosa;
mas a consciência, que é o éco dos valores, exige imperiosamente que o homem
obedeça a essa norma imutável” (ibid).